As pessoas descobrem e conhecem as cidades através das suas miradas, visitando-as, experimentando-as, lendo sobre elas… para isso utilizam diferentes ferramentas, livros, viagens, Internet… as janelas são um recurso que permite ver, conhecer, observar. Uma janela à nossa história, é a mensagem principal do Projeto Muralha Digital, que pretende descobrir e acercar o património e cultura comum à cidadania através das Tecnologias da Informação e a Comunicação (TIC).

Falamos com Luzia Gregorio Rodríguez, diretora geral de Ineo (Associação Multissetorial de Novas Tecnologias da Informação e a Comunicação), entidade sócia do projeto Muralha Digital.

P: Como surge a ideia de empreender o projeto Muralha Digital?

R: As muralhas inicialmente concebidas como um elemento defensivo e separador convertem-se na actualidade em elementos integradores e que dotam de identidade as cidades. Como sistema vertebral dos territórios, as muralhas condicionam o presente, o passado e o futuro das cidades, desde um ponto de vista arquitetónico, paisagístico e social e além disso são testemunhas da história.

O Projecto Muralha Digital origina-se em 2011 com o objetivo de criar uma rede de cidades amuralhadas na Galiza e Norte de Portugal que apostem pela gestão conjunta para a valorização deste património histórico-arqueológico através das Tecnologias da Informação e a Comunicação (TICs).

P: Quem faz possível esta iniciativa?

R: A União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), no marco da segunda convocação do Programa de Cooperação Trans-fronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013 (POCTEP), co-financia o projeto em 75% (1.412.850)

Somos sete sócios, a Câmara de Comércio de Lugo, INEO, a Universidade de Santiago de Compostela, o Centro de Computação Gráfica e as Câmaras Municipais de Valença do Minho, Monção e Melgaço são os promotores desta iniciativa para a valorização do património histórico-arqueológico.

P: Trata-se por tanto dum projeto conjunto entre Galiza e Portugal, que cidades em concreto conformam essa rede de territórios amuralhados?

R: Existem duas grandes zonas de intervenção do projeto, uma delas situada no centro norte da Galiza, que conta com dois dos elementos arquitetónicos/arqueológicos mais representativos, como são: a muralha romana de Lugo (património da humanidade), que data desde o século III; e Santiago de Compostela, onde se conservam poucos restos da muralha que se integrou noutros edifícios. Outra zona formada pelas fortificações da zona sul de Galiza e Norte de Portugal da época moderna do século XVII-XVIII, nas cidades de Valença do Minho,Monção e Melgaço.

Estas cinco cidades contam com uma história, cultura e património comum, que vai desde a ocupação romana, passando pela muçulmana, idade média até chegar à época moderna.

P: Que atividades se desenvolvem relacionadas com a arquitetura e paisagem das muralhas?

R: Nas cidades participantes do projeto estão a desenvolver-se diferentes workshops de sensibilização e formação criadas para sensibilizar sobre a história comum desta Euro-região.

Entre as atividades, desenvolvemos: workshops de sensibilização, dirigidos à cidadania em general com o objeto de promover a arqueologia, mostrando a evolução das fortificações amuralhadas de Lugo, Valença do Minho, Santiago de Compostela, Monção e Melgaço; e workshops de formação, orientados à inserção laboral de pessoas desempregadas que desenvolvem actividades de recolhida de informação e digitalização da mesma.

Imagem da inauguração das workshops formativas

Nesta linha de trabalho, desenvolveu-se um estudo evolutivo das cidades participantes através das muralhas, que requer um intenso trabalho de campo baseado na recompilação de toda a documentação existente em arquivos e museus sobre a evolução das diferentes cidades e na realização de registos planimétricos e mostras fotográficas das diferentes áreas amuralhadas.

http://www.muralladigital.eu/

A estas atividades temos que somar as mais tecnológicas de reconstrução das muralhas e pôr à disposição toda esta informação através de meios digitais (site e aplicações móveis) aos cidadãos e visitantes.

P: A visão arqueológica e patrimonial que tem o projeto, de que maneira se pode transladar para promover turisticamente os territórios participantes?

R: Com a finalidade de promover conjuntamente o património histórico-arqueológico das cidades se está a desenhar um produto turístico, a Rota trans-fronteiriça das muralhas. Aí vai estar toda a informação (textual e visual) que se está a desenvolver para conseguir atrair a atenção de turistas interessados na história.

Também se desenvolverá uma aplicação para móvel e Tablet que tem como objetivo melhorar a experiência que o turista tem na sua visita, ao poder visualizar como era na época medieval ou romana o ponto no que se encontram situados.

Pretende-se que o turista realmente experimente uma imersão na história, que não tenha que recrear ele os monumentos em base a uma informação que possa ler, senão que realmente tenha essa imagem.

P: Como aplicam as novas tecnologias para contribuir à valorização do património através das muralhas?

R: Tem-se estado a trabalhar na reconstruir digitalmente a muralha utilizando inovadoras técnicas para a criação de conteúdos digitais, como são: Cinema 4D, 3D Max, After effects CS6, Phostoshop CS 6, Illustrator CS6, Zbrush ou Final cut studio.

P: Que elementos poderiam destacar-se de carácter inovador?

Há muitos aspetos inovadores no projeto. Por um lado, puramente tecnológico, as técnicas que se estão a utilizar para desenvolver as recreações, com uma linguagem visual muito próxima ao que se está a empregar em publicidade, pelo que é facilmente assimilável por qualquer.

Por outro lado, a forma como se está a pôr à disposição dos utentes, através de um site geo-referenciado e uma aplicação móvel que permite uma recreação insitu .

Por último, todos os conteúdos estão com um extremo rigor histórico sobre da informação proporcionada, pelo que se está a fazer mais acessível para a maioria da população informação que muitas vezes se reservava para museus, se está “socializando” a informação histórica das nossas cidades.

P: Por último onde podemos encontrar mais informação sobre a Muralha Digital?

Através do site do projeto www.muralladigital.eu podem obter mais detalhes da parte formal do projeto mas, em breve, lançaremos o site com a rota trans-fronteiriça, ponto aglutinador de toda a informação desenvolvida ao longo do projeto.

Desenvolveram-se diferentes actos de apresentação do projeto e a Muralha Digital tem uma ampla presença em Internet e redes sociais, através do blog http://murallasdigitales.blogspot.com.es no que se publicam periodicamente entradas e também em Facebook, Twitter, Flickr e Slideshare do projeto.

Proximamente e como feche do projeto desenvolver-se-á um vídeo viral que será promovido através das redes sociais.

Mais informação: Muralha Digital

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