Lança-se Univercyt, uma empresa consultora que pretende ajudar as Instituições de Educação Superior de Ibero-América a melhorar os seus processos de internacionalização e gestão da ciência e tecnologia, com a missão de impulsionar a sua capacidade institucional nos âmbitos de investigação, inovação, empreendimento, transferência tecnológica e vinculação com o tecido empresarial. Para isso, se acaba de lançar IN4DES, um prototipo de serviço aberto à participação e opinião de todos aqueles profissionais que desejem contribuir ao projeto.

Falamos com Javier González Sabater e Carlos Alberto Vigil Taquechel, co-fundadores do projeto empresarial e consultores, para conhecer esta iniciativa.

P: O que é Univercyt?

Javier González Sabater (JGS): Univercyt é uma empresa que nasce para impulsionar a internacionalização das Instituições de Educação Superior e os centros de investigação Ibero-americanos.

Gostamos de denominar a Univercyt como uma startup de serviços de consultoria, porque nos centramos na missão de contribuir à dinamização da capacidade científica e tecnológica de Ibero-América, para consolidar modelos inovadores de gestão e cooperação institucional que permitam impulsionar uma sociedade global baseada no conhecimento.

P: Quem integram a equipa empreendedora?

JGS: Univercyt foi fundada por uma equipa de dois empreendedores com uma experiência acumulada de mais de 20 anos na gestão de processos relacionados com a internacionalização da ciência e a tecnologia em Ibero-América e na União Europeia.

A equipa está composta por Carlos Alberto Vigil Taquechel, que é consultor em cooperação internacional universitária, graduado em relações internacionais e com uma ampla experiência em gestão de projetos universitários no contexto das relações institucionais da União Europeia e América Latina.

E eu, Javier González Sabater, que sou consultor de transferência de tecnologia, I&D e inovação e tenho uma longa experiência no âmbito da cooperação universidade-empresa. Sou também fundador de The Transfer Institute, Instituto de transferência de conhecimento.

P: Por que surge a necessidade de empreender este projeto empresarial?

Carlos Alberto Vigil Taquechel (CAVT): Univercyt nasce para tentar oferecer soluções a problemas que identificamos nas instituições ibero-americanas, como resultado duma investigação prévia e que se concentram em dois âmbitos da atividade universitária que para nós resultam estratégicos: internacionalização e gestão da ciência e a tecnologia.

P: Em que consistem estas deficiências detetadas?

CAVT: O primeiro problema que nos salta à vista é que entre ambos âmbitos de atividade universitária parece existir uma enorme separação. Isto é, existe muito pouca interação entre as unidades responsáveis destes processos, é como se a gestão relacionada com a internacionalização e a correspondente gestão da ciência e tecnologia fossem pequenos feudos dentro da estrutura global da Universidade. E isto afeta sensivelmente ao impacto que a investigação pode ter tanto dentro como fora desta.

Ponho um exemplo que ilustra este problema, poderíamos perguntar o que é que nos vem à mente quando se fala de impulsionar a internacionalização. Existe a ideia generalizada de relacioná-la com ações dirigidas a aumentar a mobilidade de estudantes, professores, investigadores ou pessoal administrativo que realizam estágios noutras instituições para ações de intercâmbio; atrair mais estudantes estrangeiros para os cursos ou convidar professores para dar conferências; talvez em aumentar o número de convénios e acordos internacionais (que muitas vezes terminam por ter um baixo perfil de execução) ou estimular a participação em projetos e redes internacionais que na sua maioria têm um objetivo de carácter predominantemente académico. Todo isso é legítimo e valioso para reforçar a capacidade de ação internacional duma universidade, no entanto constitui uma visão parcial da internacionalização.

Desde a nossa perspetiva, a internacionalização tem que ser um processo capaz de alcançar todos os âmbitos da atividade universitária desde a investigação à inovação, passando pela transferência de tecnologia ou as relações com o tecido empresarial. Umas áreas que muitas vezes não dispõem de indicadores de medição no contexto das universidades.

Também, existem muitos problemas que dificultam o trabalho em equipa destas unidades. Entre estes, a precariedade e limitações de recursos, tanto humanos como económicos; o baixo nível de especialização dos componentes da equipa para desenvolver as suas funções; o baixo perfil de autonomia e independência ou uma pobre hierarquização na estrutura institucional global.

São estas deficiências que caracterizam o panorama atual e que constituem a verdadeira génesis de Univercyt e que podemos sintetizar na necessidade de uma mudança nos modelos de gestão, uma mudança para que os gestores universitários deixem de solucionar problemas sob pressão, de dedicar horas a questões muitas vezes irrelevantes que não contribuem ao fortalecimento institucional. Uma mudança que permita que uma universidade de forma organizada e planificada possa identificar em função da sua estratégia e das suas necessidades, potencialidades e fortalezas. Têm que ser os seus interlocutores os que têm que cultivar as ações nas que se têm que envolver e deixar de, por exemplo, participar em projetos e redes nos que muitas vezes entramos porque outros nos convidaram para completar o número mínimo de membros requeridos mas, nos que quando termina a sua execução contribuímos e nos beneficiamos muito pouco.

P: Como se pode compreender esta necessidade de internacionalização da ciência e a tecnologia na atualidade?

CAVT: A internacionalização, tal como a conhecemos, é hoje um imperativo, o mundo muda duma forma extremamente dinâmica e só aquelas instituições que tenham capacidade de adaptação e acompanhar o ritmo dessas mudanças terão opções de sobreviver. A América Latina (e Espanha e Portugal não são exepção) está obrigada a fazer uma cruzada pelo fomento dum modelo sustentável de desenvolvimento económico e social que tenha os seus pilares no conhecimento e no desenvolvimento científico e tecnológico e nessa cruzada as universidades terão que estar na vanguarda, mas para isso têm que estar devidamente preparadas.

Por exemplo, é totalmente incompreensível que sendo as universidades latino-americanas responsáveis por uma grande parte do conhecimento e a tecnologia que se gera na América Latina, só 2% das universidades latino-americanas se possam classificar como instituições orientadas à investigação e são evidentes as insuficiências nos seus sistemas de investigação, na baixa produção científica, na limitada geração de patentes, licenças, startup e spin-offs e num vínculo pobre com o tecido empresarial. Essa situação se tem que inverter e para conseguir esse objetivo é de extrema importância que as universidades reduzam os seus altos níveis de endogamia e deem a todas as suas atividades uma projeção verdadeiramente internacional.

P: Para inovar nos modelos de gestão universitária, se desenvolveu uma metodologia de trabalho. Em que consiste o modelo IN4DES?

CAVT: IN4DES, é o acrónimo do que denominamos Modelo institucional de inovação e internacionalização para o desenvolvimento da Educação Superior. Estamos a trabalhar nele e pretendemos que se converta numa metodologia com a que inovar nos processos de internacionalização universitária para reforçar a qualidade e a capacidade de atuação das instituições de educação superior.

Está focado essencialmente às atividades relacionadas com a gestão da ciência e a tecnologia, sem excluir outras atividades da vida universitária. Em resume, poder definir um prototipo de serviço no qual a partir das áreas priorizadas da instituição e as condições específicas do meio local, se traça uma estratégia de desenvolvimento para os processos universitários com uma dimensão internacional.

Elaboramos o documento de trabalho, “Ideias gerais do modelo IN4DES para o fomento de ações de internacionalização universitária”, que está disponível no nosso site e que descreve os princípios chave de funcionamento desta metodologia.

IN4DES. Documento informativo de modelo para impulsar la internacionalização da Educação Superior.Univercyt

O modelo implementado na totalidade propõe a criação duma Unidade IN4DES. Para que se perceba melhor, ponho um exemplo: Pensemos numa universidade como há muitas no heterogéneo universo ibero-americano, que não se pode permitir dispor de unidades independentes com pessoal especializado e com alto nível de profissionalização para gerir os seus processos de relações internacionais, vinculação empresarial e transferência de resultados de investigação. Esta situação poderia corrigir-se se a instituição fusiona essas funções numa equipa polivalente e multi-disciplinaria que possa responder institucionalmente por coordenar e promover coerentemente os processos de internacionalização, gestão de projetos, transferência de tecnologia, empreendimento e vinculação empresarial.

Obviamente, para a posta em marcha desta unidade seria sempre necessário desenvolver todo um processo de capacitação profissional que permita aos seus membros desempenhar com eficácia a sua missão. O modelo IN4DES propõe que esta unidade desenvolva os seus processos a partir da adequação aos processos universitários da metodologia OPM3 (Organisational Project Management Maturity Model) do PMI (Project Management Institute), que é um modelo de gestão provado com sucesso em variados meios empresariais.

P: Em que fase se encontra atualmente Univercyt?

CAVT: Estamos a aplicar no lançamento deste prototipo de serviço a metodologia Lean Startup e estamos numa fase de pura experimentação. Esta caracteriza-se pela dinâmica criar-medir-aprender, isto é, lançamos uma ideia que depois vamos medir e com isso aprender para validar as nossas hipóteses e construir a partir daí produtos e serviços que proporcionem um verdadeiro benefício para os nossos potenciais clientes.

Para isso a partir do documento informativo mencionado, “Ideias gerais do modelo IN4DES para o fomento de ações de internacionalização universitária”, elaboramos um questionário com o qual gostaríamos de conhecer a opinião de profissionais e desde logo fazer um convite a participar.

P: Como podemos participar?

CAVT: É muito simples e leva só 10 minutos. Para nós resulta essencial nesta fase que diretivos, investigadores, professores, administrativos e todos os que têm que ver com as tarefas universitárias se leiam o documento informativo, preencham o questionário e nos façam chegar os seus comentários, observações, bem como compartilhar as suas experiências. Já que na medida que disponhamos de mais elementos, melhor poderemos posteriormente criar serviços específicos para dar resposta a essas necessidades e interesses. Para completar o questionário podem visitar o seguinte link: http://www.univercyt.com/servicios/in4des/

P: Para que público está dirigido Univercyt?

CAVT: Univercyt como projeto está essencialmente concebido para instituições de educação superior e centros de investigação de Ibero-américa, mas também pensamos trabalhar com centros tecnológicos ou empresas interessadas em processos de investigação, transferência tecnológica e inovação.

Se por exemplo se analisa a proposta inicial de montagem de uma unidade IN4DES, pode-se notar que à priori se estabelecem como referência quatro palcos nos que se pode implementar o modelo e em alguns o vínculo universidade-empresa como uma espécie de clúster local tem um peso considerável.

Em qualquer caso, quando pensamos no nosso segmento mais específico de mercado partimos da base que as instituições de educação superior ou centros de investigação de pequena ou média dimensão que têm força em algumas áreas do conhecimento, são as que mais se podem aproveitar deste projeto, mas que pela sua capacidade institucional se lhes dificulta ter uma presença mais notória no contexto internacional.

Podem contactar connosco através do nosso site: www.univercyt.com. Nesde site podem registar-se no boletim que esperamos lançar no mês de Abril, e também seguir-nos nas redes sociais como LinkedIn e Twitter. Cada um de nós estamos sempre ativos nas redes sociais.

P: Se evidência cada vez mais que o momento atual exige uma profunda transformação económica e social dos agentes que compõem o sistema de inovação dum país. Como assinalam, se demanda uma transição para uma economia baseada na sociedade do conhecimento e aberta à colaboração e a cooperação internacional. Na vossa opinião, como devem evoluir as relaciones Universidade-Empresa neste contexto? Que papel joga o empreendimento científico-tecnológico nisso?

JGS: Efetivamente é verdade. As rápidas e profundas mudanças que estão a ocorrer, catalisados pela tecnologia, estão a obrigar a mudar a forma na qual trabalhamos. Muitos dos focos atuais de transferência tecnológica e vinculação com a indústria que existem nas universidades são ineficientes ou não são capazes de enfrentar os retos do nosso tempo, produzindo um desajuste entre o talento científico da instituição e a sua capitalização sócio-económica.

Evidentemente há muito caminho por percorrer, mas desde o nosso ponto de vista, as relações Universidade-Empresa deverão evoluir no futuro sobre vários eixos de atuação, como por exemplo, citando algumas iniciativas:

  • abertura da universidade em todos os sentidos,
  • motivação e autonomia do pessoal investigador,
  • criação de ecossistemas de relações,
  • profissionalização da gestão,
  • cultura de inovação contínua,
  • ambiente de empreendimento científico e tecnológico nos estudantes.

P: Que possibilidades abrem atualmente a aplicação das TIC ou fenómenos sociais como a inteligência coletiva à melhora da transferência de tecnologia e ao fomento do empreendimento científico-tecnológico nos países ibero-americanos?

JGS: As TIC, e principalmente Internet, estão revolucionando a nossa vida. Fenómenos como os meios sociais, a inteligência coletiva, as aplicações em dispositivos móveis, etc., têm um altíssimo potencial no nosso âmbito porque vão permitir a criação de mercados e plataformas eletrónicas de tecnologia, conhecimento, informação, oportunidades, serviços profissionais, desenvolvimento e capacitação.

Sem dúvida, as universidades e organismos de investigação têm hoje em frente a elas uma série de oportunidades inimagináveis com relação a uma década atrás, que giram ao redor de duas ideias fundamentais: em primeiro lugar, podem aproximar o seu conhecimento a qualquer consumidor do mundo e em segundo, mas não menos importante, podem construir uma magnífica relação com ele que lhe permita adaptar-se e crescer de forma sustentável.

No nosso caso, e em linha com esta tendência, estamos a desenvolver o nosso modelo de internacionalização IN4DES mediante a inteligência coletiva, contando com a participação e opinião de todos aqueles profissionais que desejem contribuir.

P: Na vossa opinião, quais são os principais reptos de cooperação científico-tecnológica para impulsionar a internacionalização das Universidades Ibero-americanas?

CAVT: Só esta pergunta dá para outra entrevista, mas tentaremos ser breves e abordar só aqueles que me parecem mais relevantes. Esta análise tem fatores externos e internos às instituições universitárias. No plano externo, o mais importante talvez é a necessidade dum maior apoio dos governos, um apoio verdadeiro, não de discursos e declarações em plenários e cimeiras. Um apoio decisivo ao trabalho das universidades, ao fomento da ciência e a tecnologia, ao fomento de ecossistemas de inovação. Dois exemplos, a América Latina precisa um investimento significativo para melhorar a infraestrutura das suas universidades e centros de investigação, ao menos aqueles de importância estratégica. Precisa dum programa, como o que Erasmus foi na sua altura na Europa, que seja o catalisador dum sentimento e identidade latino-americana e isso requer da decisão estratégica dos seus governos. Por muito tempo, Espanha suportou financeiramente os principais programas de cooperação universitária e científica de Ibero-américa, é um mérito indiscutível que ninguém pode negar, mas são tempos de que essa responsabilidade seja compartilhada por outros estados que estão na capacidade de assumir isso.

No plano interno, as universidades precisam de grandes transformações nos seus modelos de gestão, precisam adaptar-se aos desafios que requer o mundo global e as novas tecnologias com as que hoje convivemos, têm que ser universidades mais flexíveis com as que interatuar e colaborar estreitamente com as empresas, que não seja um problema para os professores e investigadores; que se possam explorar as vantagens que oferecem as alianças público-privadas; que possa sair ao exterior a estabelecer relações sabendo que conta com o apoio das empresas de seu meio; que os responsáveis dos processos de internacionalização e cooperação internacional não se vejam obrigados a consultar cada ação com os seus superiores porque têm autonomia, independência e capacidade para representar a sua instituição de forma profissional e responsável. Têm que ser instituições que aproveitem ao máximo o empurrão, motivação, capacidade de inovação e ambição profissional do seu capital humano mais jovem. Em fim, para resumir numa ideia têm que converter-se em universidades nas que o espírito empresarial não esteja em conflito com a docência e a investigação científica, têm que ser ecossistemas universitários com uma vocação decididamente empreendedora.

P: Para finalizar, quais são os principais reptos presentes e futuros que se abrem para Univercyt?

JGS: No dia de hoje, o repto mais importante para a nossa empresa é atingir a sustentabilidade operativa mínima a partir duma massa crítica de clientes e projetos, que nos permita configurar uma equipa de trabalho adequado e iniciar o desenvolvimento de negócio.

Num curto prazo gostaríamos de contar com um porta-fólio de serviços que atinjam as necessidades de internacionalização dos nossos clientes e acelerar o crescimento da companhia. Bem como conseguir consolidar uma plataforma que sirva de contacto e interface aos nossos clientes e através da que possamos ligar pessoas e oportunidades para impulsionar projetos nos quais todos os atores obtenham um benefício tangível.

Com respeito ao futuro, desejamos criar duma forma gradual uma equipa multi-disciplinaria de consultores que abarquem as diferentes perspetivas dos processos de internacionalização, ciência e tecnologia que nos possamos encontrar nos diferentes palcos nos que desempenhemos nosso trabalho. Nesse sentido, estamos abertos à colaboração com outros profissionais que apoiem o nosso enfoque de trabalho e com os quais colaboraríamos em projetos.

Do mesmo modo, gostaríamos de contar com uma rede de colaboradores e unidades de toda Ibero-américa e nos principais polos de atividade científica, tecnológica e de empreendimento do mundo, que permitam gerar oportunidades de colaboração estratégica desde a primeira linha para a internacionalização dos nossos clientes, e conseguir por tanto resultados de sucesso.

A nossa meta final é converter num agente chave a mudança e o progresso baseado no conhecimento em Ibero-américa e todo o que contribua a conseguir este propósito será bem recebido.

E como esta é a última pergunta, queremos terminar agradecendo à vossa equipa do OVTT esta excelente oportunidade para apresentar o nosso projeto.

Mais informação: Univercyt

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