Hoje em dia é imprescindível fomentar o empreendimento científico e apoiar todos os que queiram criar uma empresa de base científica desde o âmbito da investigação ao mundo empresarial. Para isso, nasce a Associação Espanhola de Empreendedores Científico-Tecnológicos (AEEC), uma organização orientada a velar pelos interesses e aspirações de investigadores, estudantes ou profissionais embarcados no repto de empreender o seu próprio projeto empresarial e apostar por um modelo de desenvolvimento económico e social sustentado no conhecimento, a inovação e a transferência de conhecimento à sociedade.
Falamos com Manuel Pérez-Alonso, Professor Titular de Genética da Universidade de Valência; sócio fundador de seis empresas bio-médicas e Presidente da Associação Espanhola de Empreendedores Científico-Tecnológicos.
P: Como surge a oportunidade de criar a Associação Espanhola de Empreendedores Científicos-Tecnológicos?
R: Esta rede, na sua origem, é o resultado duma aposta pessoal. Dei-me conta da necessidade que temos os cientistas que algumas vez empreendemos durante a nossa carreira, de agrupar-nos e compartilhar as nossas experiências. Também vi que em Espanha não existia nenhuma associação desta natureza que cuidasse e protegesse aos empreendedores científicos. Por isso, em Março de 2010 decidi criar um grupo na rede social LinkedIn, que foi o germe de tudo.
Fonte: Manuel Pérez-Alonso (LinkedIn)
P: Com a organização do I Congresso Nacional de Científicos Empreendedores conseguiu-se formalizar o movimento, dando lugar à Associação Espanhola de Empreendedores Científicos-Tecnológicos como tal. Em que estado está?
R: Sim, a Associação é a consequência do sucesso nesse I Congresso Nacional, no qual teve lugar o Acto de Fundação da Associação Espanhola de Empreendedores Científico-Tecnológicos. Atualmente, depois da aprovação dos estatutos e a configuração duma Junta Diretiva provisória, estamos em pleno lançamento para somar sócios e organizar diversas actividades.
P: Quais são os principais objetivos da Associação?
R: O objetivo da Associação é duplo. Por um lado, trabalhar por facilitar o processo de empreendimento na ciência e, por outro, fomentar a divulgação científica e o esforço por aproximar a cultura da ciência e o empreendimento científico à sociedade através de dar visibilidade aos próprios empreendedores científicos.
É fundamental reconhecer o trabalho dos empreendedores científicos, já que a chave para o desenvolvimento económico e social dum país está em que a investigação e o conhecimento passe dum âmbito exclusivamente público ao mundo empresarial. As spin-off são o motor de criação de riqueza, emprego e bem-estar social que temos de aproveitar.
Fonte: ADEIT
P: Quais são as principais barreiras que destacaria ao conseguir este cometido?
R: Hoje em dia existe uma forte demanda social que reclama que a ciência se aplique através da criação de novas empresas, no entanto isto é uma tarefa tremendamente complexa e pouco favorecida pelo nosso sistema de inovação. Precisamos articular, através da Associação, uma actividade capaz de facilitar esse processo, identificando obstáculos e atacando diretamente raiz dos problemas.
A principal barreira é, sem dúvida, o facto de que abordar um projeto empreendedor para um investigadores significa complicar-lhe a vida de uma maneira extraordinária. Tem um preço pessoal elevado que tem de ser gerido e mais quando infelizmente as instituições que costumam ver-se implicadas não proporcionam os apoios e o reconhecimento que o científico empreendedor deveria receber.
Daí a importância de empreender esta Associação, uma rede que promova desde a ética, a transparência e a Responsabilidade Social, o empreendimento na ciência e facilitar o desenvolvimento do talento, dando-lhe o valor e o espaço que merece.
P: Que actividades se estão a organizar atualmente desde a Associação?
R: Atualmente estamos imersos na organização de várias atividades, entre elas gostaríamos de destacar:
Em primeiro lugar, o Simpósio “Empreender desde a ciência em tempos agitados”, que organizamos no próximo 5 de Junho no âmbito da celebração de Biz Barcelona. Um encontro criado para empreendedores, start-ups e PME em general, no qual através de mesas redondas temos um espaço de debate e reflexão sobre aspetos relevantes para empreender em ciência e tecnologia. Falamos sobre aspetos legais, recomendações para a procura de financiamento e conheceremos diferentes experiências de empresas spin off e start ups de diversos âmbitos científicos e tecnológicos.
Fonte: Encontro TEI Bio
Também estamos a promover encontros informais orientados à transferência de conhecimento, empreendimento e investimento em projetos científico empresariais. Por enquanto, começamos no campo da bio-medicina com os encontros TEIbio. Até a data celebramos quatro encontros em Valência, com resultados muito prometedores.
Outro âmbito de actividade relevante para a rede é impulsionar a criação dum Código de Boas Práticas que proteja o cientista e o empreendedor e também toda a sociedade. Os empreendedores temos uma responsabilidade para com a sociedade e devemos evitar o lucro sem benefício social.
Além disso, estamos a começar a trabalhar já na organização do II Congresso Nacional de Científicos Empreendedores que celebraremos em 2014.
P: Uma intensa atividade, quem pode colaborar neste projecto e como?
R: A Associação Espanhola de Empreendedores Científico-Tecnológicos está aberta a todo aquele que esteja interessado. Para isso, admite três tipos de sócios:
- Sócios Individuais, dirigido a pessoas físicas.
- Empresas de base científico- tecnológica criadas em Espanha
- Sócios Institucionais.
O prazo formal de admissão de sócios na Associação está já aberto, e suas condições podem encontrar no site: www.uv.es/redce. Existem outras formas de colaborar connosco como podem ser por exemplo, a doação e o voluntariado.
P: Para finalizar, quais são os vossos reptos presentes e futuros?
R: Boa pergunta… Misturar a ciência e os negócios ainda gera hoje em dia reticencias na sociedade, inclusive na própria comunidade investigadora. O principal repto que tem esta Associação é mostrar que a união da ciência e os negócios não é uma perversão do sistema de Inovação e Desenvolvimento senão ao contrário, é um beneficio para todos. Sempre que os negócios baseados na ciência se façam sob um critério estrito de ética e transparecia, claro está.
O nosso repto, por tanto, é conseguir que a sociedade espanhola, especialmente a comunidade científica, veja o inquestionável benefício social que tem aplicar a ciência ao mundo da empresa.
Mais informação: AEEC