O Programa CEI – Fomento do Empreendimento Académico constitui uma iniciativa pioneira para o impulso à criação de empresas de base tecnológica a partir de investigações desenvolvidas nas universidades públicas Espanholas. A libertação das obrigações de docencia do professor e a personalização do apoio no processo emprendedor se posicionan como os principais factores de sucesso desta iniciativa, que apoiou a criação e consolidação de 15 projetos empreendedores promovidos por professores universitários, em sectores tão diversos como as TIC, ciências da vida, biotecnologia, agro-alimentício, energia ou ciências sociais.

Falamos com Senén Barro , Presidente de RedEmprendia, para conhecer o programa e o trabalho que desempenham desde esta rede universitária de incubadoras de empresas no impulso do empreendimento universitário em Ibero-américa:

P: Em que contexto nasce este programa e com que objectivos?

R: O Programa CEI-Fomento do Empreendimento Académico nasce no ano 2011 como uma linha de apoio inovadora dentro dos programas de fortalecimiento do Campus de Excelencia Internacional das universidades espanholas.

O objectivo principal do programa foi ajudar à criação e consolidação de empresas a partir dos resultados de investigações realizadas nas universidades. No inicio existiam outras iniciativas de apoio ao empreendimento universitário, mas não demasiadas. No entanto, o aspecto mais inovador do programa e o motivo que o converte numa iniciativa pioneira no âmbito da transferência de tecnologia desde a universidade, foi a aposta por reivindicar a figura do “empreendedor académico”, o professor/investigador universitário que se implica na transferência dos resultados da sua investigação através da criação de uma empresa.

Além disso, o programa constituiu um magnífico exemplo de colaboração de sucesso entre a administração pública – representada pelo Ministério de Educação -, uma entidade financeira – o Banco de Santander – e RedEmprendia, como organização de apoio ao empreendimento universitário em Ibero-américa que liderou a execução do programa. Por parte de RedEmprendia, coordenou o programa Rickard Bucksch, desenvolvendo um excelente trabalho.

P: Em que consiste o Programa CEI-Fomento do Empreendimento Académico?

R: Fundamentou-se em dois pilares, basicamente: por um lado, o Ministério de Educação financiou um professor substituto para o académico emprendedor, que assumiu as suas responsabilidades docentes durante um período de seis meses a um ano. Isto permitiu ao beneficiario dedicar-se a tempo completo à criação ou consolidação duma empresa. Por outro, a RedEmprendia, com o apoio económico do Banco de Santander, definiu uma série de serviços de apoio e assessoramento personalizado para as empresas e projectos beneficiários, detectando e atendendo dentro do possível necessidades e oportunidades.

As principais características deste programa mostram-se neste dossier:

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P: Que tipo de empresas participaram?

R: O perfil dos beneficiários do programa CEI-Fomento do Empreendimento Académico foi de docentes e investigadores unidos ao Campus de Excelencia Internacional das universidades públicas espanholas com um projecto ou empresa de recente criação a partir dos resultados das suas investigações.

P: Quantos empreendedores académicos e de que sectores foram?

R: Na primeira convocação beneficiaram-se do programa um total de 15 empreendedores académicos de nove universidades. Para além deste aspecto comum, os sectores ou campos científicos de origem dos projectos e os perfis dos empreendedores são heterogéneos: seis dos beneficiarios operam no campo da biotecnologia, quatro no sector TIC, dois no âmbito das tecnologias alimentárias, outros dois no sector das energias renováveis e um no campo das ciências sociais.

Nesta linha, os projectos empresariais com os que trabalhámos são:

  • APEIRON MEDICAL (Universitat Politècnica de València, UPV).
  • ASCIDEA (Universitat Pompeu Fabra, UPF).
  • BILAKA(Universidad del País Vasco, EHU)
  • DAPCOM – DATA SERVICES (Universitat de Barcelona y Universitat Politècnica de Catalunya)
  • DIOMUNE (Universidad Autónoma de Madrid, UAM)
  • DNS NEUROSCIENCE (Universidad Autónoma de Madrid, UAM)
  • IDERMAR(Universidad de Cantabria, UNICAN)
  • IMEGEN (Universitat de València, UV).
  • IMICROQ (Universitat Rovira i Virgili, URV).
  • IMMUNNOVATIVE DEVELOPMENTS (Universitat de Barcelona y Hospital Clínic de Barcelona).
  • M-CARER (Universitat Rovira i Virgili, URV).
  • SMALLE TECHNOLOGIES (Universitat de Barcelona, UB).
  • SOC-E (Universidad del País Vasco, EHU)
  • W3IS2 (Universitat Rovira i Virgili, URV).
  • YPSICON (Universitat Autònoma de Barcelona, UAB).

Foi necessário elaborar planos de trabalho individuais para a cada projecto, identificando necessidades e oportunidades conjuntamente com o empreendedor e a sua universidade.

P: Que tipo de actuações se desenvolveram dentro do projecto?

R: Em cada caso desenvolveu-se um programa de apoio feito à medida, segundo a situação da cada empresa e empreendedor. Portanto, e esta foi uma das características mais interessantes do programa, as actuações de apoio foram diferentes e ajustadas a cada caso.

Esquematicamente poderíamos falar de quatro tipos de actuações de apoio:

  • Coaching e apoio directo aos beneficiarios por parte da coordenação do programa; tanto com o desenvolvimento dos seus projectos como na interlocução entre a universidade e o Ministério de Educação para os temas de gestão.
  • Definição e execução de actuações de apoio à medida, financiadas através da contribuição ao convênio por parte do Banco de Santander.
  • Actuações concretas, com oferta de serviços de RedEmprendia; incluindo um curso em Empreendimento Académico em colaboração com a Escola de Organização Industrial (EOI).
  • Inclusão das empresas participantes na rede de apoio de RedEmprendia .

Também, recentemente organizamos a Jornada Investigadores Emprendedores: De la Universidad a al Empresa , um encontro no qual se apresentaram os resultados do Programa e no que também quisemos ceder a palavra e o protagonismo aos próprios empreendedores académicos beneficiários, que tiveram a ocasião de compartilhar experiências, reptos e diferentes perspectivas sobre a criação de spin-offs em Espanha.

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Podem ver um resumem desta Jornada no seguinte vídeo :

P: Quais são os principais benefícios que estas empresas conseguem por ter participando na iniciativa?

R: Mais que a criação de um número concreto de novas empresas, o nosso objectivo foi que as empresas nascessem com um melhor enfoque, maior fortaleza e que crescessem melhor e mais rapidamente. Tivemos muito presente este facto para enfocar as atuações de apoio estratégicas para as empresas, que foram muito variadas: desde conseguir uma certificado ISO, definir adequadamente a via para obter a aprovação de produtos pela European Medicines Agency ou desenvolver um plano sólido para a internacionalização da empresa, mencionando só alguns exemplos.

À margem deste apoio personalizado, não cabe dúvida de que o empreendedor académico obteve um grande benefício ao ser liberto das obrigações de docencia. Não podemos pedir ao pessoal docente e pesquisador que faça tudo ao mesmo tempo, dar aulas, investigar e transferir, inclusive empreendendo, e que faça tudo bem. Há momentos especialmente exigentes em cada uma das suas responsabilidades e requerem intensificar os esforços numa linha, aliviando a dedicación às outras. Isto tem que estar previsto e adequadamente organizado e incentivado. Neste sentido, a valoração do programa por parte dos seus beneficiários foi muito positiva e também por parte das universidades e entidades de apoio ao empreendimento destas.

P: Prevê-se uma nova edição do programa?

R: Reeditar este programa é uma decisão que compete ao Ministerio de Educación, Cultura y Deporte Espanhol. São momentos difíceis pelas dificuldades económicas, mas também é verdade que são momentos nos que têm de estabelecer-se prioridades e a meu ver algumas deviam ser previstas: conseguir transferir mais e melhor os resultados de I&D, criar emprego de alta qualificação e criar tecido empresarial inovador. Este programa tem sido, sem nenhum tipo de dúvidas, um excelente investimento para a sociedade e RedEmprendia estaria disposta a colaborar em novas edições do mesmo.

P: Têm pensado extrapolar o modelo a outros países ibero-américanos?

R: Gostaríamos que assim fosse e que também tivesse continuidade em Espanha. Em todo o caso, as características deste programa requerem envolvimento e liderança das administrações públicas que correspondam em cada caso. A RedEmprendia, como ocorreu na iniciativa Espanhola, pode colaborar no desenho e ser um sócio estratégico na sua execução e estaríamos dispostos a seguir fazendo em novas ocasiões, aqui ou noutros países.

Adicionalmente a este programa e à sua possível expansão a outros países, a verdade é que como Rede temos por objectivo ir incorporando progressivamente novas universidades e através delas aumentar a nossa presença a outros países de Ibero-américa. Será um processo lento, dado que temos que ir assentando primeiro o modelo de colaboração com as universidades que já fazem parte de RedEmprendia e também as linhas de acção e projetos que se vão iniciando. De todas as formas e sempre que possível, a RedEmprendia trata de que as iniciativas se estendam para além das suas universidades associadas, como ocorrerá, por exemplo, no evento Spin2014, que celebraremos no México D.F. no final do ano 2014.

P: Que lições podemos citar deste projecto e do trabalho desempenhado por RedEmprendia para impulsionar o empreendimento universitário na Ibero-américa?

R: Várias, mas uma importante é que colaborando diferentes tipos de entidades com um objectivo comum se pode conseguir mais e com um maior impacto. Nos países ibero-americanos, e também sucede em Espanha, o empreendedor académico tem um papel chave para que possam surgir e crescer novas empresas baseadas no conhecimento e no desenvolvimento tecnológico. Portanto, os empreendedores académicos merecem todo o apoio que se lhes possa dar.

P: Quais são os principais reptos de futuro para vocês?

R: A missão da RedEmprendia é apoiar a transferência, a inovação e o empreendimento universitários, como eixo estratégico do Sistema Ibero-americano do Conhecimento. Com isso queremos contribuir ao desenvolvimento da sociedade e à melhora da sua qualidade de vida, impulsionando uma economia responsável e comprometida social e ambientalmente. Isto guia desde o inicio a RedEmprendia e a suas iniciativas.

Mais informação: RedEmprendia

Sobre Senén Barro:

Senén Barro Ameneiro é o Presidente da RedEmprendia, catedrático de Ciências da Computação e Inteligência Artificial, fundador e director do Grupo de Sistemas Inteligentes da Universidade de Santiago de Compostela (USC), um dos mais relevantes grupos de investigação Espanhóis em Inteligência Artificial. Entre os anos 2002 e 2010 ocupou também o cargo de Reitor na USC, período durante o qual pôs em marcha diversas iniciativas para promover a internacionalização e o empreendimento na Universidade Galega. Também é editor e autor de sete livros, o último deles titulado Universidade – Especulação” (Netbiblo, 2013) e autor a mais de 200 artículos científicos.

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